Superação de um câncer e amputação: Jane Portugal
A natureza demorou milhares de anos para aprimorar a sua maior criação: a célula humana. Dentro dessa minúscula obra de arte ocorre uma movimentação de trabalhadores e setores que é uma coisa incrível. Mas, a existência atual é permeada de muito estresse, desafios, má nutrição, poluição e outros elementos que alteram esse funcionamento. A célula que deveria trabalhar em grupo, acaba-se por se rebelar e cria-se um exército de células desgovernadas e malucas. É então que entra em cena a doença chamada câncer.
E foi essa doença que marcou a vida de Jane Portugal. Ela vivenciou muitos desafios, aos 27 anos, com 2 filhos pequenos e muitos sonhos à frente.
“Minha história com o câncer começou em 1993, aos 27 anos, quando eu terminei minha graduação na faculdade. Nessa época morávamos em Goiânia, eu, meu marido e meus dois pequenos filhos – um menino de então três anos e uma menina de quase dois.
Após quatro cirurgias para retirar o tumor, que na época os médicos diziam ser um fibroma, fui sentenciada a viver com ele que, segundo o médico, era inoperável. Quatro cirurgias não foram suficientes para retirada total do tumor, o mesmo continuaria a crescer até o meu óbito.
Nesse momento meu marido decidiu que viríamos para o Rio de Janeiro, nossa cidade natal, a fim de buscar tratamento. Foi um momento difícil porque eu não sabia da gravidade do problema, só meu marido. Tive que deixar pra trás meus planos, a vida que havíamos construído até ali.
Quando chegamos ao RJ, já tínhamos a indicação de um médico do INCA que nos atendeu e levou a lâmina do tumor para exame.
Dias depois tivemos a resposta sobre o tumor: era um rabdomiofibrosarcoma de partes moles, um tipo de neoplasia que ocorre principalmente nos tecidos, muito invasivo e estava no meu mediastino. Era resistente a quimioterapia e a radioterapia teria que ser feita para tentar diminuir o tamanho. Fiz as sessões de radioterapia, mas o tumor não desapareceu.
Fui operada novamente. Foram mais de 17 horas de cirurgia. Perdi costelas, clavícula, parte do pulmão, musculatura do tórax, meu braço esquerdo perdeu o movimento e a sensibilidade. Meu corpo todo estava marcado. Fiquei 3 meses no CTI e quatro meses ao todo no hospital. Passei literalmente pelo vale da sombra da morte, mas venci.
Voltei pra casa e tive que extrair forças pra continuar e graças a Deus consegui. Minha família, meu marido e filhos me ajudaram muito. A maternidade me ancorou no meio disso tudo.
Após sete anos tive uma recidiva e tive que passar pela amputação do braço esquerdo.
Sempre falo que quem passa por tudo isso tem duas alternativas: sentar e chorar todas as perdas ou olhar para tudo que ficou, entendendo que o ser humano é muito maior que a junção de cabeça, tronco e membro. Decidir continuar a viver da melhor maneira possível. Essa foi a minha escolha e eu tenho certeza que foi a escolha certa.
A vida de cada um depende da cor que damos a ela, e eu tenho colorido a minha com o único braço que tenho com as cores da fé,superação e felicidade”.
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Mais uma guerreira na batalha da vida.