Sobrevivente de um atropelamento

 em Histórias de superação

Conheça a seguir a história de Rodolfo, um sobrevivente! Rodolfo foi atropelado e se esqueceu de tudo, acorda na UTI depois de 21 dias, sem uma de suas pernas.

rodolfo teixeira

“Minha mãe reza ao meu lado, só não sei o porquê. São imagens distantes, desconexas e pessoas que não conheço. É tudo meio sem sentindo, são poucas coisas para entender e quando percebo, sinto uma vontade de abrir os olhos, só não sei porque!

Enfim, abro os olhos. Vejo uma senhora de branco que anda depressa, mais uma, outra, reparo bem no lugar onde estou. Nossa! Estou num hospital, não parece coisa boa, meus braços estão amarrados. Será que fui preso? Pelo o que? Que gosto ruim na boca, parece até que tomei umas a mais.

A enfermeira-chefe vem até mim. “Senhor, vou lhe explicar, estamos no hospital porque você foi atropelado. Seus braços estão amarrados para evitar que tire tudo quando acordar, o senhor entende? Posso desamarrá-lo? Respondo que sim, embora esteja tudo estranho. Atropelado? Como? Não me lembro o que aconteceu.

A enfermeira volta e começa a esclarecer o ocorrido. “O senhor esteve dormindo por 21 dias, hoje é dia 27 de maio e se estiver sentindo algo pode falar”. Digo que não, mas ainda pareço amarrado, minha perna esquerda está pesada e a direita, muito leve.

Chega o médico e me informa que, por causa do atropelamento, ele foi obrigado a amputar a perna direita e minha perna esquerda está engessada.

É muito difícil tentar compreender. Admito que é muito difícil para mim, e perguntas ainda rodeiam o meu pensar! “Por que comigo?” “Como isto aconteceu?” “O que será da minha vida agora?” É muita tristeza, vou chorar.

Sozinho na cama, choro durante uns dez minutos sem me conformar com o que está acontecendo, mas reparo que ali, as enfermeiras correm de um lado para o outro. O doutor me falou que estou em uma U.T.I. (unidade de terapia intensiva) e que a todo momento acontecem situações inesperadas – é a vida e a morte andando lado a lado.

Reflito! Já vi que a situação não é fácil, mas existem piores que a minha, então preciso ter mais coragem do que nunca e procurar enfrentar as adversidades, mesmo que estas pareçam insuperáveis. Me avisam que serei transferido para um quarto. Pode parecer bobagem, fiquei muito, mas muito contente. Pequenas coisas fazem a diferença.

Ainda permaneci um dia a mais na UTI e quando percebia a correria dos enfermeiros eu pensava, o que aconteceu desta vez?

triciclo rodolfo teixeira

Sobre os dias no hospital, não tenho do que reclamar, minha esposa ficava por lá até a hora de ir ao seu trabalho, daí alguém sempre vinha me acompanhar, ou como digo, me vigiar.

Lembro de quando chegou o dia da operação, fui examinado por pelo menos três médicos, desse momento em diante, só me recordo de levar mais uma leve picada no braço, depois já acordei no meu quarto sem o gesso, mas com a perna ainda imobilizada. Daí em diante, voltei àquela mesma rotina hospitalar, soro, banho, visitas de enfermeiros, gente da família e como sempre, minha esposa esteve presente.

Esta rotina hospitalar não é muito boa, porém era necessária para que eu me recuperasse.

Atualmente

No momento, graças à família, já estou tentando me adaptar à segunda prótese e sem dúvida, sei que não será a última. Minha maior dificuldade é quanto a perna esquerda, da que perdi os três ligamentos do joelho e isto causa alguns transtornos – tombos de fato.

Para tudo existem entraves, no transporte público, a maioria dos veículos são impróprios e quando não, tomara que o elevador funcione. Nossas cidades não tem quase acessibilidade, as calçadas não são acessíveis. No comércio então, faltam rampas e existem diversos degraus. Tenho esperança que, futuramente, esteja melhor.

Precisei mudar de casa porque no “apertamento”, eu quase não saía. A rua de lá era muito inclinada e eu podia cair, quem sabe me machucar ou perder definitivamente a pequena mobilidade que restava. Afinal, hoje também sou um deficiente e eu não nasci deficiente e tenho que aprender a ser, é “uma nova vida em minha vida”.

Superação é a palavra que acredito ser a que melhor se encaixa quando definimos a vida e a rotina dos deficientes.

Antes, sabia que deficiente sofria, mas neste instante, sinto na pele as dificuldades. Somos aproximadamente vinte e sete milhões de deficientes no Brasil, nossas limitações existem e precisamos superá-las. Me mudei para o litoral, aqui quase tudo é plano e isto facilita a mobilidade, mesmo com algumas restrições. Só que como digo, superação é tudo e hoje continuo em busca de uma mobilidade com menos restrições naquilo que se refere à totalidade.

Por fim, espero que este texto traga aos leitores um pouco de entendimento e atenção da sociedade para conosco. Temos políticos que lutam por nossos direitos e como exemplo, vejo alguns, somente os que sempre olham os deficientes com respeito e dignidade. Ninguém quer ficar vivendo à margem da sociedade e não somos exceções.

Todas as pessoas querem ser incluídas no meio social, este é um desejo permanente de todo ser humano, ser incluído e poder participar. Mas, infelizmente as divergências sociais e sub-humanas fazem parte do contexto e os homens estão cada vez mais se restringindo. Os condomínios fechados estão aí e são exemplos do que falo.

amputado rodolfo

Um dos meus sonhos era ser historiador, apesar das barreiras que enfrentei para me formar, consegui! Hoje sou um historiador!

Só não voltei ao trabalho porque a condição física ainda não me permite. Se ando trezentos metros, preciso descansar meia hora e sendo assim, não estou preparado para chegar até o trabalho.

Tento e treino diariamente a marcha, só não sei se conseguirei melhorá-la. Levarei um tempo maior para que consiga locomoção de maneira adequada, sinto que estou melhorando e esperançoso de que tudo volte a ser como era antes. Aprendi muito com o ocorrido, percebi o valor familiar nestes momentos de dificuldades. Entendi um sentido de mobilidade que antes não tinha.

Vi de perto um mundo se acabar, a vida voltar e aprendi a superar. Termino este texto com a certeza de que a felicidade existe, como disse um psicólogo e professor, por fim, um grande amigo, “felicidade é decisão”. Finalizo com uma frase do dr. Augusto Cury, “Temos que ser autores, não as vítimas da nossa história”.

rodofo teixeira amputado

Postagens Recomendadas
Comentários
  • Rodolfo Vicente Teixeira
    Responder

    A história não está mais aparecendo.

Deixe um Comentário

Comece a digitar e pressione Enter para pesquisar

protese perna.jpgedsondantasparalimpiadas.jpg