Depoimento – Luiz Carlos
A vida é uma surpresa
Eu, Luiz Carlos Sabino de Almeida, residindo em Curitiba – PR, casado pai de dois filhos um com 12 e outro com 18 anos; até então tinha uma vida normal, como qualquer outra pessoa, no intuito de sempre passar a eles responsabilidade e honestidade, para que possamos orgulhar-se um do outro.
Com 43 anos vividos tive a certeza de que minha vida teve sentido após o ano de 1983, no auge dos meus 22 anos, quando fui para a cidade de Cascavel – PR, para iniciar na carreira de Bombeiro Militar, onde atuei por longos 10 anos, principalmente na atividade de mergulho (resgate de cadáveres); ser bombeiro é um sonho de muitos, mas um privilégio de poucos, porém eu faço parte destes privilegiados. Passei por 08 meses para escola de formação de soldado do fogo, especializando-se em combater o fogo, resgate de vítimas em quaisquer circunstâncias, quer na água no fogo ou no ar; aquele que jurou perante a Bandeira Nacional honrar seu País, dar sua própria vida para salvar outra e salvaguardar vidas e bens materiais em prol da sociedade sem distinção de raça, cor ou poderes aquisitivos. Este período foi justamente um dos mais felizes de minha vida, pois com 22 anos tinha certeza que possuía tudo para realizar-me como homem digno de caráter e personalidade formada.
Nos anos convividos naquela cidade, tenho a certeza de ter cumprido com meu dever, ainda que a época fosse difícil de desenvolver nossas atividades, pela falta de equipamentos adequados; mas mesmo assim não deixávamos de atender aqueles que precisavam de nosso auxílio sem medir esforços. Neste ínterim passei por aperfeiçoamentos como cursos de Cabo Bombeiro Militar, Sargento Bombeiro Militar, Guarda Vidas, Socorrista – SIATE, condutor de Viaturas Militares. Atualmente atuando na capital do Estado – Curitiba – PR, aproximando-se dos 22 anos de serviço como Bombeiro Militar. Desde 1993, atuo na função de 2º Sargento socorrista, atividade esta que nos dá prazer, sabendo que no momento do atendimento às vítimas, aquelas pessoas dependem do nosso conhecimento para que seus sofrimentos sejam amenizados e suas lesões não sejam agravadas; tornando gratificante quando sabemos que aquelas pessoas estão bem e você contribuiu para que isso fosse possível; e a satisfação nos é completa quando somos chamados carinhosamente pelas pessoas como anjos da guarda.
Más infelizmente, tudo aquilo que para mim foi à realização como profissional, homem de caráter e deslumbrado com a profissão, acima de tudo tornou-se A HISTÓRIA DE MINHA VIDA, após 21 anos de serviço consecutivos sem prejuízo para o Estado, fui agraciado com uma licença, podendo usufruí-la em todo território Nacional. Aí que houve uma tragédia onde eu fui o protagonista; tudo aconteceu na noite de 27/10/04 por volta das 19h: 30min, no retorno da cidade de Paranaguá – PR, na Av. Airton Senna da Silva, com a Rua Luiz Xavier, justamente no cruzamento um caminhão Scania entrou a minha direita e ao mesmo tempo retornou de marcha ré. Sua carreta era só o pranchão, usado para o transporte de contêineres para o Porto da mesma cidade, sem sinalizações adequadas, rodovia mal iluminada. Porém o que nos deixa perplexo, é que um profissional com categoria E, necessário para este tipo de condução tenha feito uma manobra em local impróprio, sem balizadores e com o trânsito normal nos dois sentidos da via. E como a rodovia era mal conservada e de pouca luminosidade, e eu trafegando de motocicleta, meu deslocamento mesmo devagar, quando deparei com a situação e ao perceber o que estava acontecendo, não foi o suficiente para esquivar-me do acidente, tentei então sair por trás do caminhão, porém a moto derrapou e havendo a queda por baixo do caminhão com isso fui atingido pelo seu pára-choque traseiro, ocorrendo à amputação de minha perna direita na altura do joelho. Neste exato momento minha vida teve um retrocesso mais ou menos um 20 segundos o suficiente para não acreditar no que estava acontecendo,no exato momento vem a lembrança de como você é e será da li para frente, seus filhos, sua esposa, seu trabalho como vai ser, pedi a Deus todo poderoso que não era verdade, que não estava acontecendo comigo, eu que tanto fiz em prol das pessoas sempre dando o melhor de mim, não era justo passar por aquilo; mas ao mesmo tempo, meu pai do céu estava dando-me mais uma chance de vida e com certeza não era o momento de fraquejar e sim fazer aquilo que era necessário. Pois as pessoas se aproximavam e ao ver a cena; minha perna a cinco metros do meu corpo todo ensangüentado, não sabiam o que fazer, mesmo eu pedindo para que alguém me ajudasse fizesse algo por mim, saíam de perto; aí eu vi que meu aprendizado meu conhecimento de causa e tudo que fazia pelos politramatizados, principalmente quando eu estava na Ambulância do Corpo de Bombeiros. Sim teria que pensar rápido e agir para minha sobre vida. Em dado momento gritei para que alguém conseguisse algo que eu pudesse amarrar o que restou da minha perna; foi quando alguém próximo cedeu seu cinto para que meu fizesse um torniquete para estancar o sangramento. Todo esse tempo deve ter demorado uns dez minutos. Aí de posse de meu celular consegui avisar o Centro de Operações da Ecovia na BR 277, do ocorrido, e como eu fazia parte também do serviço de resgate médico da mesma, foi deslocado até onde eu estava aproximadamente 85 km de Curitiba, uma ambulância Resgate com uma equipe, médico e socorristas para atender-me onde naquele dia passei de socorrista a vítima. Passando mais de 30 minutos fui atendido pelo médico de plantão, por sinal muito meu amigo, Dr. Benatti; tanto ele como os demais componentes da equipe ficaram horrorizados com o ocorrido; apesar de estarmos preparados para qualquer tipo de situação, mas quando envolve alguém próximo a nós com certeza a situação fica mais delicada. Porém com todo desempenho da equipe, após duas horas e meia do sinistro consegui chegar ao Pronto Socorro; embora a distância longa graças a Deus, minha cirurgia teve êxito, por ser complicada e de grande risco, transcorreu normalmente. No meu pós-operatório foi um pouco difícil, pois a ficha começou a cair, e tanto eu como minha família não queríamos acreditar no que tinha acontecido; pois nossas vidas tiveram uma reviravolta por completo, e ao pensar que meu sonho, minha carreira como Bombeiro Militar estava no fim, era difícil aceitar, pois pela minha idade e tempo que faltava para minha reforma regulamentar, teria muito a fazer por aqueles que um dia juramos ajudar. Justamente nestes momentos difíceis é que percebemos que temos amigos, e com todo apoio e confiança que nos passam é que conseguimos forças para dar a volta por cima e continuar com a cabeça erguida e que a mudança em meu corpo não passa de uma mera alteração no ciclo de minha vida e com auxílio de uma prótese, desenvolverei boa parte daquilo que fazia apesar das limitações e restrições que vou encontrar no dia a dia, não deixarei de continuar a contribuir com meus conhecimentos. Apesar de passarem longos cinco anos, sempre vem à lembrança como fosse hoje, mas graças a Deus, consegui uma prótese e digamos que estou reabilitado, trabalho em Paranaguá, não como Bombeiro, mas como Técnico de Enfermagem do Trabalho, mas quando deparo com uma situação de emergência, meu espírito de Bombeiro transborda e hoje me vejo mais completo ainda para auxiliar aquela pessoa; pois eu já estive na mesma situação, e sei realmente do que ela está precisando, não só do meu profissionalismo, mas sim de uma mão amiga amparando-a, passando-lhe confiança e dizendo coragem tudo vai acabar bem.